O Sabão

"Francis Ponge, ou o homem contente, ouvi-me dizer.Certamente: muito contente de tudo o que me acontece e particularmente de ter (isto aconteceu assim) tido o tempo de observar um pouco atentamente um pequeno pedaço de sabão."

"...Se vocês dispõem de alguns minutos e vos agrade retomar o caminho comigo... Mas vejamos: comecemos pelo começo. E amachuquemos primeiro, depois deitemos para o cesto todo o rascunho de papel impresso com o mau gosto vulgar nos invólucros do objecto. Agarremo-lo todo nu.
Não há nada na natureza comparável ao sabão. Nenhuma pedra é mais modesta, nem, ao mesmo tempo, mais magnífica. Para dizer a verdade, há qualquer coisa de adorável na sua personalidade. O seu comportamento é inimitável. Isto começa por uma reserva perfeita. O sabão dá provas, antes de tudo, de uma moderação perfeita, ainda que mais ou menos discretamente perfumada. Depois, desde que nos ocupemos dele, então não direi que luz, bem entendido, mas que vivacidade magnífica! Que entusiasmo extremo na abnegação! Que generosidade! Que volubilidade, quase inesgotável, inimaginável!
Podemos, aliás, desembaraçarmo-nos dele imediatamente, mas esta aventura, este breve encontro deixa-vos – eis o que é sublime – as mãos tão puras como nunca as tiveram."