Um Auto Para Jerusalém

A acção deste "Auto” decorre em Jerusalém, mais propriamente no Académico-Clube dos Sábios locais, onde os intelectuais judeus se juntam para criar "grandes” obras para a posteridade. Pomposos, arrogantes – e estúpidos – vamos encontrá-los a preparar uma obra normativa sobre o uso da língua hebraica.

Eis senão quando, anunciado pelas pancadas de Molière, irrompe pela cena dentro o Menino Jesus, que os acusa de insensibilidade para com o sofrimento do povo. De que servem os livros, se o povo não sabe ler? O Menino Jesus exorta os sábios a envolverem-se directamente com os problemas sociais. Diz-lhes para irem para a rua insurgir as pessoas contra a tirania dos poderosos, pois por toda a parte reina a fome e a injustiça.

À boa maneira surrealista, entra em cena um Homem da Gestapo – que podemos identificar como um elemento da PIDE de Oliveira Salazar. Em nome de Herodes, vem prender os "conspiradores”. Quer levar o Menino Jesus para uma casa de correcção e os doutores para a prisão.

Aqui, porém, intervém o Orador – uma espécie de narrador que acompanhou toda a acção e nos apresentou as personagens. Diz que não quer prisões na "sua” peça. O Homem da Gestapo é dominado, mas quando volta a si todos fogem rapidamente. Até o Orador, que sai a correr pela plateia.