Mercado das Madrugadas

dePatrícia Portela
ediçãoTNDM II / Bicho-do-Mato (coleção «Textos de Teatro»)
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Num dia improvável, mas muito possível ou mesmo inevitável, toda a gente decidirá não sair de casa. O mundo parará e fará greve a si próprio. Nesse dia, haverá tempo para pensar, para respirar, para chorar por todas as atrocidades cometidas até à data. Depois... voltaremos a sair. Daremos o braço a um próximo, a uma vizinha, a um desconhecido, a uma mãe, a uma filha, e desceremos todas as avenidas até chegarmos a esta praça. A praça que é uma escola, que é uma troca, que é o lugar para todas as classes e para todas as possibilidades. Trocaremos impressões. Acepipes. Propostas para os próximos 50 anos de abril. Ocuparemos as ruas, que é tudo o que precisamos para as transformar. E sem nos darmos conta, de longe chegar-nos-á aquele som dos passos arrastados na gravilha, aquele ritmo moreno que toda a gente conhece. O Cante tornar-se-á manif. A manif tornar-se-á numa marcha. A marcha fará cair a noite. O Amanhã inevitável começará.
de Patrícia Portela
edição TNDM II / Bicho-do-Mato (coleção «Textos de Teatro»)
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